domingo, 21 de setembro de 2008

Excesso de Exagero: polêmica com Luciano Siqueira

Companheiro Luciano,
Antes de tornar público este artigo, lhe envio, pedindo que sejam feitas correções quanto a elementos factuais e para que você tome conhecimento em primeiro lugar. Espero uma resposta sua.
Um abraço
Marcelo

Luciano Siqueira, ao lado de Gustavo Krause, com o adesivo de Priscila Krause no peito, na inauguração do comitê da vereadora, candidata à reeleição pelo DEM. E ainda mais, segundo a matéria publicada no Jornal do Commércio de 16 de agosto, afirmando: “esse mandato precisa ser renovado”.

Como se explica isto?

O DEM, produto clonado e maquiado da ARENA, do PDS e do PFL, é o agrupamento político mais representativo da direitagem e do conservadorismo no Brasil, sendo Gustavo Krause um dos seus ideólogos, enquanto Priscila Krause vem exercendo, na Câmara Municipal do Recife, a mais intransigente oposição à administração da Frente de Esquerda do Recife, que tem João Paulo à frente, sendo Luciano Siqueira o seu vice.

Num processo eleitoral, a visibilidade, o simbolismo e a demarcação de campos se acentuam, exigindo das lideranças políticas, principalmente daqueles militantes mais conhecidos e reconhecidos, um cuidado especial para que as suas atitudes não venham colocar água no moinho dos adversários, confundir o eleitorado ou gerar insatisfações e polêmicas nas fileiras em que estão engajados.

É normal, nas campanhas eleitorais, que se visitem os comitês dos partidos aliados. Mas marcar presença na arena de partidos adversários, gerando imagens que poderão ser utilizadas publicitariamente e lhes render votos, é rigorosamente inabitual, incorreto e inadmissível.

Ora, Luciano Siqueira pertence ao PCdoB, partido integrante do bloco político que está à frente da Prefeitura do Recife e sustenta a candidatura de João da Costa a prefeito da capital. E nesse bloco se colocam duas tarefas: eleger o prefeito e uma bancada de vereadores que lhe dê sustentação. Nessa perspectiva, trabalhamos contra outras candidaturas a prefeito e os seus candidatos a vereador. Diante disto, para que lado somam a presença de Luciano Siqueira no Comitê de Priscila Krause e a declaração de que o seu mandato precisa ser renovado?

Não estou questionando a existência de possíveis relações pessoais de Luciano de Siqueira com Gustavo Krause e/ou a sua filha candidata. É comum que tais coisas ocorram. Os militantes são seres sociais comuns, com afinidades e relações que não se circunscrevem às trilhas da atividade política. Vanguarda também massa. Mas no momento dos confrontos políticos é preciso não misturar as coisas e pesar o conteúdo político e o significado simbólico das nossas atitudes. Neste particular, acho que o companheiro Luciano Siqueira errou redondamente. E como a sua atitude foi pública, também torno pública a minha posição a respeito.




  • RESPOSTA DE LUCIANO

    20 de Agosto
    Querido companheiro Marcelo:
Como lhe falei hoje à tarde, só ontem à noite li sua mensagem.

Se tenho uma permanente abertura à crítica, mesmo quando feita por adversários, e as examino com atenção, uma crítica sua será sempre recebida como um ato de solidariedade. Para mim, além de companheiro-irmão, você é um revolucionário.

Devo apenas esclarecer mais uma vez o ocorrido. Estive, sim, na inauguração do comitê de Priscila Krause, juntamente com Luci, ali permanecendo não mais do que dez minutos. Fui retribuir a atenção que ela tem dispensado ao meu partido, o PCdoB, e a mim, em diferentes ocasiões – a exemplo do ato comemorativo dos 20 anos de legalidade do partido e o lançamento dos meus dois livros de crônicas. Aliás, não apenas Priscila, mas o deputado André de Paula (que presidiu o PFL), o ex-governador Mendonça Filho, dentre outros quadros da direita, têm sido cordiais em relação aos comunistas, o que para nós (corrente política proscrita por tanto tempo e alvo de tanta discriminação) tem importância como expressão da convivência democrática. Porém jamais qualquer gesto de cortesia mútua significou para nós do PCdoB tráfico de princípios ou concessão política. Aqui e em outras partes do país onde fatos semelhantes acontecem – como na festa de 30 anos de vida pública e pré-lançamento da então candidatura do deputado Aldo Rebelo, do PCdoB, a prefeito de São Paulo, onde estiveram personalidades como José Serra, Geraldo Alckmin, o prefeito Kassab e outros desse quilate, num gesto de respeito a Aldo e a seu partido.

Agora, jornalista que é, você bem sabe que “papel aceita tudo”. A nota na coluna do Jornal do Commercio, obviamente pautada pelo comitê da vereadora, exagera: afirma que eu estaria pedindo votos para Priscila. Não creio que alguém de bom senso e que me conheça acredite nisso. Seria ridículo. Peço, sim, votos para mim e para outros candidatos a vereador do PCdoB e dos partidos coligados, jamais para alguém que representa o campo de forças adversário. Nunca confundi relações meramente cordiais entre adversários com promiscuidade política e ideológica, você bem sabe.

Você diz que o grande erro é ter visitado o comitê de uma adversária em plena campanha. Como lhe disse, na campanha de 2004 já havia praticado gesto semelhante – compareci à festa de aniversário do candidato de oposição Joaquim Francisco, também para retribuir gestos de cortesia (com a anuência e a concordância de João Paulo). Então, sou um reincidente... De toda sorte, comprometo-me a refletir com mais calma sobre o conteúdo de sua crítica. E, com a sua permissão, publicarei no meu blog a sua mensagem e esse meu breve comentário.



Afetuoso abraço,


Luciano

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