sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Pressão, Hipóteses e Coxas

Marcelo Mário de Melo

“Não decido sob pressão!” Esta é uma declaração que, de vez em quando, aparece na boca de dirigentes públicos e privados, ante reivindicações ou cobranças de algum segmento social. “Não raciocino sob hipótese!” Esta também ocorre com o mesmo nível de freqüência, em falas de políticos indagados sobre passos futuros da sua trajetória. E quando se quer depreciar algo tido como concluído às pressas ou mal-acabado, muitas vezes se diz: “coisa feita nas coxas!”.

Quero levantar o meu protesto e revelar o que existe de incorreto, antinatural e injusto em tais afirmativas.

Em primeiro lugar, vamos deixar claro que só decidimos qualquer coisa sob pressão, porque a pressão é o nosso território de sobrevivência natural e social. É a pressão arterial batendo no peito. A pressão do calendário despetalando os dias. A pressão do relógio calcando a agenda. A pressão do velocímetro e do tanque de gasolina. A panela de pressão no fogo A pressão do dinheiro faltando para comprar e pagar. A pressão dos cálculos com o dinheiro chegando. A pressão da mulher ou do marido. A pressão dos filhos. A pressão dos parentes, companheiros, amigos e vizinhos A pressão do consumo. A pressão da mídia. A pressão da opinião pública. A pressão íntima. A pressão do medo. A pressão do sonho.

Quanto às hipóteses, por favor! Qual aquele ou aquela que ostenta a condição humana e não raciocina? E como raciocinar sem fazer hipóteses? O fato é que - e utilizando aqui o termo hipótese no seu sentido geral, e não na rigorosa acepção vinculada ao método científico - vivemos o tempo todo fazendo hipóteses. Em torno das coisas máximas e mínimas da vida. A curto e a longo prazo. E sendo assim, que se retifique o discurso. Diga-se que determinadas hipóteses se ligam a elaborações especulativas e não serão externadas. Que ainda não se fez hipóteses sobre o assunto em questão. Mas por favor, sem essa de dizer que não se raciocina com hipóteses. Ou então se assuma a condição de primata ou robô.

E finalmente, quanto às coxas, estamos diante de uma grave injustiça sexual. Porque nas coxas é muito gostoso, muito próximo e, às vezes, fecunda. As coxas representam uma instância antecedente ou alternativa com elevado potencial de prazer, não devendo ser rebaixadas à condição de metáfora de realidades toscas, desagradáveis e insatisfatórias. Para representá-las, que se fale então em coisas feitas “nos tornozelos” ou “nos joelhos”. E aqui muito cuidado, porque logo acima dos joelhos começa o território prazeroso e injustiçado das coxas.

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