terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cuidado com a Tensão Pré-Eleitoral!

Marcelo Mário de Melo

A estas alturas da campanha eleitoral, começam a grassar com mais intensidade, nos comitês da direita, da esquerda e do centro, os sintomas e os efeitos de um distúrbio político-psicológico que ainda não entrou na pauta dos estudos acadêmicos e, muito menos, no território dos consultórios dos profissionais da saúde mental. Trata-se da TPE: a Tensão Pré-Eleitoral, que se manifesta independentemente de hierarquia e área específica de trabalho. Os mais afetados pelo mal, no entanto, são os profissionais da comunicação.

Na proximidade dos debates entre candidatos, com o olho ansioso nas pesquisas “quanti” e “quali”, ante o desejo de ganhar no primeiro turno ou conseguir chegar nele, a contagem regressiva do final de campanha corre o perigo de se transformar em contagem depressiva. Situação em que os neurônios desgastados podem colocar tudo a perder. Numa decisão mal-tomada. Num pequeno detalhe que passou despercebido.

São roteiros de programas rasgados. Dúvidas atrozes sobre manter a campanha no nível “propositivo” ou "partir para o ataque". Fazer ou não fazer uma nova peça publicitária. Tudo isto, em meio às advertências do setor jurídico sobre os “pode-e-não-pode” da legislação eleitoral e os riscos de se dar margem a “direitos-de- resposta” ou outras ações judiciais por parte dos comitês adversários.

Também podem interferir na Taxa Mínima de Equilíbrio Profissional e Político – TMEPP o afloramento de reações mórbidas decorrentes do estresse e segundo a estrutura psicofísica de cada um. São enxaquecas, insônias, prisões-de-ventre, diarréias, dispnéias, subidas de pressão, faltas de apetite, gula. Sem falar no largo espectro dos distúrbios diretamente psicológicos, a exemplo da síndrome de pânico. Isto agravado pelo fato de as pessoas que seguem tratamento, no turbilhão das campanhas, geralmente o relaxarem, perdendo consultas com o terapeuta ou ficando desprovidas dos seus comprimidos habituais.

Para complicar mais ainda a situação, há a interferência nesse caldeirão das questões ligadas às esferas afetivas e libidinais. Promovendo o cruzamento de pessoas e sotaques diversos em convivência diária, extrapolando os expedientes de trabalho normais e vivenciando situações informais, os comitês de campanha são um terreno fértil para fantasias, atrações, paqueras, encantamentos, seduções e paixões possíveis e impossíveis de todo tipo. A roleta amorosa gira durante o jogo eleitoral. E o grau de realização dos diversos jogadores nos seus lances também afeta, com um peso habitualmente subestimado, a TMEPP de cada um.

Que os responsáveis maiores pelas campanhas eleitorais reflitam sobre este aspecto. De minha parte, e numa perspectiva radicalmente de esquerda e socialista, afirmo com a mais absoluta segurança que a luta popular também é afetada pelo que rola no leito copular.
E nada mais tenho a declarar.

Cada um que responda.
Cada um que proponha.
Cada um que proceda.

Apenas constato.
E um fato é um fato.

domingo, 28 de setembro de 2008

Mendonça, Raul e Cadoca: o denominador comum

Marcelo Mário de Melo

Os candidatos Mendonça, Raul e Cadoca, até pouco tempo estavam acampados no Governo Jarbas Vasconcelos, como representação da falecida União Por Pernambuco. Era o único espaço que lhe restava no poder executivo, depois que perderam a Prefeitura do Recife, com João Paulo eleito e reeleito, a presidência da república, com Lula também fazendo bis, e finalmente, o governo do estado, com a eleição de Eduardo Campos, derrotando fragorosamente Mendonça Filho.

Agora separados, eles têm uma responsabilidade comum pelos oito anos de promessas fantasiosas e omissões clamorosas dos dois Governos Jarbas em áreas essenciais como Desenvolvimento Econômico, Saúde, Educação e Segurança.

Já na reta final do Governo Jarbas, e no exercício do cargo, Mendonça tentou um marketing próprio, adotando medidas-de-última-hora com evidentes fins eleitoreiros. O concurso público na área de segurança. Uma pequena redução nos preços das passagens de ônibus. Mas tudo isto foi suplantado por uma série de frutas estragadas da gestão, que começaram a cair de podres e a ocupar espaços nas manchetes dos jornais.

A Empetur sendo questionada como uma estrutura arcaica, desapetrechada, pesada e inoperante, sem o foco num trabalhão efetivamente e estruturador da área do turismo, reduzido à produção de eventos – a pernambucanofolia. A incapacidade de captar recursos para o Estado, por falta de projetos ousados. A incompetência em negociar, revelada na pendenga jurídica, durante oito anos, com a Caixa Econômica, impedindo o Estado de ser beneficiado por recursos vindos dela e paralisando as obras da barragem de Pirapama.

A Educação passou oito anos sem um único concurso público, com as capacitações estancadas, os alunos sendo aprovados em física e em matemática, mesmo sem a existência de professores e aulas. Sem falar do sucateamento do estado físico das escolas. O que não podia ser compensado pelas 17 vitrines montadas no estado, com ensino em dois expedientes direcionados a grupos de 300 alunos em cada uma, com o foco publicitário colocado sobre a vitrine maior, do antigo Ginásio Pernambucano, e a mensagem subliminar de que as outras 16 a igualavam e em infra-estrutura.
Na área da saúde o descaso atingiu os limites extremos, repetindo-se também aí a inexistência de concursos públicos nos dois governos. E a desestruturação das unidades de serviço chegando aos limites do sucateamento. Como exemplo maior, o Hospital da Restauração, desapetrechado, a alo ponto de as macas do SAMU ficarem nele retidas, por carência desse equipamento elementar.

A Segurança passou pelo maior troca-troca de secretários e por situações deploráveis. Um titular da pasta se escondendo debaixo de uma mesa durante a greve dos policiais. Outro autorizando aos presos ricos a construção de celas de luxo com recursos próprios e perseguindo flanelinhas. Outro reconhecendo com todas as letras que os índices eram insatisfatórios.

As manchetes implacáveis dos três jornais da cidade documentam tudo. E por tudo isto respondem os candidatos Mendonça Filho, vice-governador de Jarbas e governador em exercício no fim do mandato; Raul Henry, secretário de educação; Carlos Eduardo Cadoca, secretário de desenvolvimento econômico e turismo.

E respondem, porque estiveram oito anos juntos, exatamente como diz a música popular:

“comendo a mesma comida,
bebendo a mesma bebida,
respirando o mesmo ar.”

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

NEM DEM NEM DENGUE NEM FILHOTE DE JARBAS NEM CADUCOFOLIA




A MURALHA POPULAR
Marcelo Mário de Melo

Mendonça
molde
moldura
mauricinho
milionário
manjado
mandão.

Manha
malícia
moita
mamata
mala
monopólio
moeda
mercado
mesmice
mídia
máscara
mentira
malfeito
maltrato
migalha
miséria

Memória.
Memória.

A massa
monta
muralhas.

Mulatos
mulatas
meninos
meninas
moços
moças
moradores
do mangue
mendigos
e médios
militantes
mobilizados
mandam
mensagens
multiplicam-se
de mãos dadas
na Frente
do Recife
de João Paulo
e João da Costa
na luta
no aguardo
com Lula
e Eduardo.

Assim
é que o povo gosta
e aposta
com gosto
de gás
lembrando
de Arraes
que lembrava
a cidadãs
e cidadãos
que o povo
não destrói
com os pés
o que constrói
com as mãos

Companheiros
é uma questão
de princípio
defender
o Município
do PSC
do PSDB
do PMDB
do DEM
e da dengue.

Vamos continuar
a mudar
invertendo
prioridade
na cidade.

Essencialmente
temos de fazer
diferente
alegres
e cantando loas
porque
na verdade
a grande obra
é cuidar
das pessoas.

Pressão, Hipóteses e Coxas

Marcelo Mário de Melo

“Não decido sob pressão!” Esta é uma declaração que, de vez em quando, aparece na boca de dirigentes públicos e privados, ante reivindicações ou cobranças de algum segmento social. “Não raciocino sob hipótese!” Esta também ocorre com o mesmo nível de freqüência, em falas de políticos indagados sobre passos futuros da sua trajetória. E quando se quer depreciar algo tido como concluído às pressas ou mal-acabado, muitas vezes se diz: “coisa feita nas coxas!”.

Quero levantar o meu protesto e revelar o que existe de incorreto, antinatural e injusto em tais afirmativas.

Em primeiro lugar, vamos deixar claro que só decidimos qualquer coisa sob pressão, porque a pressão é o nosso território de sobrevivência natural e social. É a pressão arterial batendo no peito. A pressão do calendário despetalando os dias. A pressão do relógio calcando a agenda. A pressão do velocímetro e do tanque de gasolina. A panela de pressão no fogo A pressão do dinheiro faltando para comprar e pagar. A pressão dos cálculos com o dinheiro chegando. A pressão da mulher ou do marido. A pressão dos filhos. A pressão dos parentes, companheiros, amigos e vizinhos A pressão do consumo. A pressão da mídia. A pressão da opinião pública. A pressão íntima. A pressão do medo. A pressão do sonho.

Quanto às hipóteses, por favor! Qual aquele ou aquela que ostenta a condição humana e não raciocina? E como raciocinar sem fazer hipóteses? O fato é que - e utilizando aqui o termo hipótese no seu sentido geral, e não na rigorosa acepção vinculada ao método científico - vivemos o tempo todo fazendo hipóteses. Em torno das coisas máximas e mínimas da vida. A curto e a longo prazo. E sendo assim, que se retifique o discurso. Diga-se que determinadas hipóteses se ligam a elaborações especulativas e não serão externadas. Que ainda não se fez hipóteses sobre o assunto em questão. Mas por favor, sem essa de dizer que não se raciocina com hipóteses. Ou então se assuma a condição de primata ou robô.

E finalmente, quanto às coxas, estamos diante de uma grave injustiça sexual. Porque nas coxas é muito gostoso, muito próximo e, às vezes, fecunda. As coxas representam uma instância antecedente ou alternativa com elevado potencial de prazer, não devendo ser rebaixadas à condição de metáfora de realidades toscas, desagradáveis e insatisfatórias. Para representá-las, que se fale então em coisas feitas “nos tornozelos” ou “nos joelhos”. E aqui muito cuidado, porque logo acima dos joelhos começa o território prazeroso e injustiçado das coxas.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Gracias a Mendonça!

Quero manifestar o meu mais reconhecido e profundo agradecimento ao candidato a prefeito do Recife pelo DEM, ex-vice-governador de Pernambuco e deputado federal José Mendonça Filho, pela grande contribuição que deu à candidatura de João da Costa na reta final desta campanha.

O fato é que os altos índices de João da Costa nas pesquisas estavam levando a um acomodamento em determinadas áreas da militância petista e da Frente do Recife em geral. Isto aliado ao mal-costume de confiar somente no marketing e esquecer a mobilização.

Instalava-se um clima de vitória prévia. Aquele negócio do carro desligado descendo ladeira. Um certo desânimo em continuar atuando a pleno vapor, diante do que se considerava um inimigo já nocauteado.

Militantes começavam a dispensar a atuação diária e a fazer presença alternada no comitê e nos atos de campanha. Representantes impacientes da esquerda festiva contavam os dias nos dedos, pensando somente na confraternização no Marco Zero.

Um companheiro octogenário, dispensado legalmente da obrigatoriedade do voto, sempre fazia questão de votar no PT em todas as eleições, criticando o excesso de otimismo e alertando que não se pode dispensar nenhum voto.

Mas dessa vez também entrou no clima do já ganhou. Anunciou que diante de índices tão elevados, o seu voto era desnecessário e iria ficar em casa acompanhando pela televisão a vitória certa.

Foi então que explodiu como uma bomba a decisão do juiz Nilson Nery, cassando a candidatura de João da Costa. A militância levou um chute no fígado. Abriu os olhos. E começou a soltar fogo pelas ventas como o dragão do desenho animado.

A freqüência nos comitês aumentou. As caminhadas engrossaram. Os pedidos de material de campanha se multiplicaram. Os telefonemas não páram de tocar com militantes se oferecendo para ajudar. Instaurou-se na campanha de João da Costa aquele clima de torcida na partida final da copa do mundo.

Devemos tudo isto ao candidato Mendonça Filho.

Mas somos reconhecidos também a outros atores e a outras atrizes que deram a sua parcela de contribuição para este tão importante e promissor resultado: os candidatos Raul Henry e Edílson Silva; a promotora Andréa Nunes, autora da denúncia contra a candidatura de João da Costa; a juíza Margarida Cantarelli, que liberou aos advogados do DEM os autos do processo; o juiz Nilson Nery, que, com chave de ouro, recomendou a cassação da candidatura de João da Costa.

Sem nenhuma dúvida, o brilho da nossa vitória seria menor sem a contribuição de vocês.

A todos e a todas, com a certeza de que “Deus escreve certo por linhas tortas”, a candidatura de João da Costa agradece.





É Bola no Pé/música

Marcelo Mário de Melo

Eleição
se ganha no voto
se ganha no jogo
e não com jogada
de advogado.

Eu quero ganhar
com a bola rolando
no gramado.

O povo não gosta
de cartola.
A luta é a mola
do time e da torcida.

É bola no pé.
Mantenho a aposta:
nós vamos ganhar
com João da Costa!

Chico de Assis Relança Livro no Recife

No próximo dia 30, no Biruta, a partir das 18:30, haverá o lançamento da 2ª edição, revista e ampliada, do livro "A trilha do Labirinto", do advogado e ex-preso político pernambucano Chico de Assis. O livro foi premiado em 1995, pela UBE-PE, e publicado em 96 pela Inojosa Editores. Sai agora com aprimoramentos na estrutura narrativa, uma bela programação visual de Juliano
Dornelles, orelha do poeta Jaci Bezerra, nota do autor e prefácio de Celso Lungaretti.

Promotoria

Promotor
Problema
Processo

Propósito
Programa
Procedimento

Produção
Provas
Propriedade.

Proponente
Proximidade
Proteção

Pró-ator?
Pró-mentor?
Pró-motor?

Pro mal?
Pro bem?
Servindo a quem?

A a?
A b?
A c?
A d?

A bem?
A cem?
A dem?

A ninguém?
A Deus?
Ao Demo?

Adeus ao direito?
À democracia?
Tudo aos democratas?

Contas ingratas.

Promotoria.
Ria.
Ria.
Ria.
Para não chorar.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Acróstico para a promotora Andrea Nunes

Amor à justiça plena
Nunca concede um favor.
Democrata verdadeira
Reafirma o seu valor
Empreende e não descansa
A serviço do eleitor.

Não favorece ao amigo
Usa a justa medida
Navega de norte a sul
Entre Mendonça e Raul
Sempre firme e aguerrida.

Documentário e Exposição Fotográfica sobre o Revolucionário Apolônio de Carvalho

Apolonio de Carvalho – falecido há três anos, depois de mais de nove décadas de luta contra a opressão na Guerra Civil Espanhola, na Resistência Francesa e no movimento revolucionário contra as ditaduras no Brasil – é a figura central do documentário “Vale a Pena Sonhar”, que será apresentado na quinta-feira 25 de setembro, 14h30, no auditório João Cabral de Mello Neto da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, UPE, em frente ao Sport Club.

Depois da projeção haverá um debate com a diretora do filme, Stela Grisotti, a presidente do Grupo tortura Nunca Mais de Pernambuco, Andreza Porfírio, e o presidente da Associação Pernambucana de Anistiados Políticos (APAP), Antônio Campos.

O documentário será reprisado em 30 de setembro, 2 e 23 de outubro, no mesmo horário e local, sempre com entrada franca.

A exposição fotográfica Apolônio de Carvalho - A Trajetória de um Revolucionário, acerca desse personagem legendário da história brasileira e internacional, está ocorrendo desde o dia 23 de setembro e permanecerá até o dia 23 de outubro, instalada na Estação Central do Metrô, na rua Floriano Peixoto, próximo à Casa da Cultura.

Os eventos fazem parte do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, em parceria com a Fundação Luterana de Diaconia e Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice). Conta também com o apoio do governo do Estado de Pernambuco.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ave Andrea! - Panegírico à Promotora Andrea Nunes

[Panegírico: discurso em louvor de alguém, elogio; panegyrikós, do grego; panegiricu, do latim]

Criticar é fácil. Difícil é elogiar. E é enfrentando esta dificuldade que desejo explicitar neste momento, data vênia, meu elogio à operosa Promotora Andréa Nunes, titular da procuradoria do Ministério Público de Pernambuco, situada na Justiça Eleitoral.

Recebendo denúncias advindas de partidos políticos representados na disputa eleitoral à Prefeitura do Recife, com o apoio do denominado DEM – Democratas, ex-PFL, por sua vez ex-PDS, por sua vez ex-ARENA, denúncias essas dirigidas contra o candidato a prefeito do Recife pela Frente do Recife, o petista João da Costa, deputado estadual e ex-secretário do Planejamento e Orçamento Participativo, uma delas acerca de possíveis intervenções de instâncias do poder executivo municipal em favor da candidatura de João da Costa, a muito digna e operosa promotora epigrafada se diferenciou admiravelmente no seu mister, pelo empenho e o espírito inovador na produção de provas e no zelo em aplicar a justiça com ampla, geral e irrestrita intenção reparadora e erradicadora, incluindo-se aí a erradicação de candidaturas.

Nessa performance reside o substrato, a razão de ser, o centro e o móvel deste meu discurso panegírico. Sem entrar em detalhes técnico-jurídicos próprios aos causídicos e jurisperitos, atenho-me a aspectos que me impressionaram como cidadão comum e profissional da comunicação, a saber:

- A promotora Andréa Nunes, segundo informações correntes nos jornais e nos blogs de notícias, para enriquecer um dos processos contra a candidatura de João da Costa, sem nenhum pejo e em desapego a formalísticas delimitações de espaços de atuação, desceu à esfera da investigação policial e se infiltrou entre militantes da respectiva campanha, passando-se por um deles e produzindo documentação fotográfica;

- Na denúncia que envolve a acusação de uso dos computadores da Prefeitura do Recife por parte de militantes do PT, em arregimentação para atos de campanha do candidato João da Costa, a Promotora Andréa não se limitou à inculpação individualizada dos autores do delito em investigação, mas num rasgo de zelo e entusiasmo preventivo e saneador, de dimensão salomônica, tratou de cortar o mal pela raiz, pronunciando-se pela impugnação da candidatura de João da Costa e pela cassação do mandato do prefeito João Paulo;

- Quando os advogados do DEM, tendo acesso aos autos dos processos, levaram informações à imprensa, constrangendo o Juiz, a Promotora Andréa antecipou-se em declarações à imprensa afirmando que o fato não prejudicava o andamento normal do caso, num zelo com a essencialidade da justiça, descartando ações diversionistas que pudessem favorecer a defesa de João da Costa e, mais uma vez, coerente com o seu perfil inovador e pioneiro;

- A Promotora Andréa Nunes também revela a sua face de modernidade e pioneirismo no fato de não dificultar os contatos com a imprensa, reconhecendo a importância da circulação de informações na consciência jurídica dos cidadãos;

- Estas atitudes são fortemente emblemáticas acerca do sentimento de justiça da promotora Andréa Nunes. Só é lamentável que ela não detenha os poderes da Santíssima Trindade, para poder alargar a sua ação aos terrenos das demais candidaturas a prefeito do Recife, fazendo assim com que o eleitorado, os cidadãos em geral e a república brasileira, nesta parte do lado de baixo do Equador, pudesse se beneficiar mais ainda com a sua ação.

Se não fosse eu materialista-ateu desde os 18 anos de idade, a estas alturas com a estabilidade dada pelo tempo de serviço, certamente dirigiria à ilustre panegiriada este voto: que Deus a tenha e a mantenha, Promotora! Na impossibilidade filosófica de fazê-lo, ofereço-lhe, apenas, a singela e mortal exaltação: honra e glória e longa vida a Vossa Excelência, Promotora Andréa Nunes! Os democratas do Recife, de Pernambuco e do Brasil lhe agradecem pelos seus serviços.

domingo, 21 de setembro de 2008

O Caso João da Costa

As análises em torno da candidatura de João da Costa, num período além do razoável, foram baseadas em formulações abstratas e tangenciadoras dos elementos determinantes que envolvem a disputa eleitoral no Recife. Portanto, vamos a eles.

Primeiro, temos as duas gestões de João Paulo largamente aprovadas pela população, com a sua aprovação pessoal acima delas. Esse elemento foi e continua a ser subestimado pelos palanques oposicionistas à direita, antes reunidos na falecida União por Pernambuco. Eles esgrimem falhas e erros específicos que, mesmo se verdadeiros, não afetam os resultados de conjunto nem anulam os benefícios que o povo pode constatar no seu dia-a-dia.

O quadro das pesquisas, comparando-se as concentrações populacionais de alta e de baixa renda, reproduz a velha polarização que, nas eleições de Arraes para prefeito em 1959 e para governador em 1962, punham no Recife, num lado da balança, o voto da “poeira”, pesando para a esquerda, e do outro, o voto do asfalto, inclinado à direita. O diferencial agora é que a gestão de João Paulo conseguiu a adesão de largos setores da classe média e de fatias do andar de cima.

O apoio do presidente Lula, a nítida identificação entre Lula João e Paulo, a presença do governador Eduardo Campos, constituem o segundo fator determinante. Acrescente-se a isto o arco de alianças composto por 16 partidos, incluindo-se migrantes da União por Pernambuco.E se considere o efeito de arrastão decorrente da difusão da imagem do candidato majoritário nas rinhas em que se desenrolam as campanhas de vereador.

O terceiro fator determinante é o candidato. E aqui a mídia e alguns analistas políticos se enganaram e se surpreenderam. João da Costa foi tratado, inicialmente, como o “poste”, o “afilhado” de João Paulo, o “tímido”, o “antipático”, o “feio”. O programa eleitoral do candidato Raul Henry ainda insiste, num quadro de invulgar vulgaridade, em tratá-lo por “aquele baixinho”. Como se tamanho fosse documento, principalmente, em política.

O fato é que João da Costa recebeu o passe de João Paulo, levantou bem a bola, saiu armando as suas jogadas, afirmou-se diante da torcida e começou a desenhar o seu estilo de jogo. Coisa que nenhum “poste” poderia fazer. E que não teria sido elemento de surpresa, se a mídia e os analistas políticos, em lugar dos raciocínios à base de clichês, tivessem se informado sobre a sua experiência e os seus desempenhos políticos anteriores.

Num breve resumo, lembro que João da Costa atuou como assessor de João Paulo em campanhas e mandatos de vereador e deputado estadual, além da candidatura a prefeito de Jaboatão. Nas campanhas majoritárias, sempre coordenou a elaboração dos programas de governo. Integrou a primeira gestão petista do Recife como secretário do Orçamento Participativo e passou à Secretaria de Planejamento na segunda, nela estando incluído o OP.

Com o apoio de João Paulo foi eleito o deputado estadual mais votado. Suas intervenções nas assembléias do OP e nas plenárias de campanha eleitoral sempre se caracterizaram pela substância, a articulação lógica e a sintonia com o público. O que, no processo político, predomina sobre as aproximações pessoais, território da sua timidez - que, a propósito, foi sendo significativamente superada no decorrer da campanha eleitoral.

Ante estes três fatores determinantes, que se refletem nas pesquisas, altamente favoráveis a João da Costa e apontando para uma solução final no primeiro turno, resta aos palanques adversários colocar o binóculo em falhas reais ou imaginárias da gestão João Paulo, cavar ações judiciais, criar factóides, lançar boatos e peças apócrifas, montar embustes tipo Maria do Socorro [campanha de Cadoca 2004] ou recorrer a outros elementos de ação ilegal e clandestina, como já ocorreu tantas vezes.

Excesso de Exagero: polêmica com Luciano Siqueira

Companheiro Luciano,
Antes de tornar público este artigo, lhe envio, pedindo que sejam feitas correções quanto a elementos factuais e para que você tome conhecimento em primeiro lugar. Espero uma resposta sua.
Um abraço
Marcelo

Luciano Siqueira, ao lado de Gustavo Krause, com o adesivo de Priscila Krause no peito, na inauguração do comitê da vereadora, candidata à reeleição pelo DEM. E ainda mais, segundo a matéria publicada no Jornal do Commércio de 16 de agosto, afirmando: “esse mandato precisa ser renovado”.

Como se explica isto?

O DEM, produto clonado e maquiado da ARENA, do PDS e do PFL, é o agrupamento político mais representativo da direitagem e do conservadorismo no Brasil, sendo Gustavo Krause um dos seus ideólogos, enquanto Priscila Krause vem exercendo, na Câmara Municipal do Recife, a mais intransigente oposição à administração da Frente de Esquerda do Recife, que tem João Paulo à frente, sendo Luciano Siqueira o seu vice.

Num processo eleitoral, a visibilidade, o simbolismo e a demarcação de campos se acentuam, exigindo das lideranças políticas, principalmente daqueles militantes mais conhecidos e reconhecidos, um cuidado especial para que as suas atitudes não venham colocar água no moinho dos adversários, confundir o eleitorado ou gerar insatisfações e polêmicas nas fileiras em que estão engajados.

É normal, nas campanhas eleitorais, que se visitem os comitês dos partidos aliados. Mas marcar presença na arena de partidos adversários, gerando imagens que poderão ser utilizadas publicitariamente e lhes render votos, é rigorosamente inabitual, incorreto e inadmissível.

Ora, Luciano Siqueira pertence ao PCdoB, partido integrante do bloco político que está à frente da Prefeitura do Recife e sustenta a candidatura de João da Costa a prefeito da capital. E nesse bloco se colocam duas tarefas: eleger o prefeito e uma bancada de vereadores que lhe dê sustentação. Nessa perspectiva, trabalhamos contra outras candidaturas a prefeito e os seus candidatos a vereador. Diante disto, para que lado somam a presença de Luciano Siqueira no Comitê de Priscila Krause e a declaração de que o seu mandato precisa ser renovado?

Não estou questionando a existência de possíveis relações pessoais de Luciano de Siqueira com Gustavo Krause e/ou a sua filha candidata. É comum que tais coisas ocorram. Os militantes são seres sociais comuns, com afinidades e relações que não se circunscrevem às trilhas da atividade política. Vanguarda também massa. Mas no momento dos confrontos políticos é preciso não misturar as coisas e pesar o conteúdo político e o significado simbólico das nossas atitudes. Neste particular, acho que o companheiro Luciano Siqueira errou redondamente. E como a sua atitude foi pública, também torno pública a minha posição a respeito.




  • RESPOSTA DE LUCIANO

    20 de Agosto
    Querido companheiro Marcelo:
Como lhe falei hoje à tarde, só ontem à noite li sua mensagem.

Se tenho uma permanente abertura à crítica, mesmo quando feita por adversários, e as examino com atenção, uma crítica sua será sempre recebida como um ato de solidariedade. Para mim, além de companheiro-irmão, você é um revolucionário.

Devo apenas esclarecer mais uma vez o ocorrido. Estive, sim, na inauguração do comitê de Priscila Krause, juntamente com Luci, ali permanecendo não mais do que dez minutos. Fui retribuir a atenção que ela tem dispensado ao meu partido, o PCdoB, e a mim, em diferentes ocasiões – a exemplo do ato comemorativo dos 20 anos de legalidade do partido e o lançamento dos meus dois livros de crônicas. Aliás, não apenas Priscila, mas o deputado André de Paula (que presidiu o PFL), o ex-governador Mendonça Filho, dentre outros quadros da direita, têm sido cordiais em relação aos comunistas, o que para nós (corrente política proscrita por tanto tempo e alvo de tanta discriminação) tem importância como expressão da convivência democrática. Porém jamais qualquer gesto de cortesia mútua significou para nós do PCdoB tráfico de princípios ou concessão política. Aqui e em outras partes do país onde fatos semelhantes acontecem – como na festa de 30 anos de vida pública e pré-lançamento da então candidatura do deputado Aldo Rebelo, do PCdoB, a prefeito de São Paulo, onde estiveram personalidades como José Serra, Geraldo Alckmin, o prefeito Kassab e outros desse quilate, num gesto de respeito a Aldo e a seu partido.

Agora, jornalista que é, você bem sabe que “papel aceita tudo”. A nota na coluna do Jornal do Commercio, obviamente pautada pelo comitê da vereadora, exagera: afirma que eu estaria pedindo votos para Priscila. Não creio que alguém de bom senso e que me conheça acredite nisso. Seria ridículo. Peço, sim, votos para mim e para outros candidatos a vereador do PCdoB e dos partidos coligados, jamais para alguém que representa o campo de forças adversário. Nunca confundi relações meramente cordiais entre adversários com promiscuidade política e ideológica, você bem sabe.

Você diz que o grande erro é ter visitado o comitê de uma adversária em plena campanha. Como lhe disse, na campanha de 2004 já havia praticado gesto semelhante – compareci à festa de aniversário do candidato de oposição Joaquim Francisco, também para retribuir gestos de cortesia (com a anuência e a concordância de João Paulo). Então, sou um reincidente... De toda sorte, comprometo-me a refletir com mais calma sobre o conteúdo de sua crítica. E, com a sua permissão, publicarei no meu blog a sua mensagem e esse meu breve comentário.



Afetuoso abraço,


Luciano

Análises Eleitorais e Clichês

Pela esquerda e pela direita, o Recife já colheu inúmeros exemplos em que os raciocínios políticos esquemáticos são derrubados pela ditadura da realidade. "Recife, a cidade invicta", vi companheiros se jactarem, considerando as vitórias acumuladas pela esquerda na capital nas disputas eleitorais travadas a partir de 1945, embora com perdas no cômputo dos votos em todo o estado. Até que, nas eleições presidenciais de 1960, Jânio Quadros tirou a virgindade, derrotando o marechal Teixeira Lott, candidato apoiado pelas esquerdas.

“Um candidato derrotado para um mandato parlamentar não pode se lançar a um mandato executivo na eleição seguinte”. Outro dogma que ruiu ante os fatos. Nas eleições de 1958 o deputado estadual Miguel Arraes não conseguiu renovar o seu mandato. Teve menos votos do que o comunista Miguel Batista, que também concorreu a uma vaga. Mas na disputa à Prefeitura do Recife, em 1959, sucessão de Pelópidas Silveira, foi eleito Prefeito, no bojo da articulação eleitoral que havia elegido Cid Sampaio governador do Estado em 1958. Os elementos concretos que envolviam os dois momentos eleitorais eram distintos. Daí a vitória.

Roberto Magalhães, contando com apoio do governador Jarbas Vasconcelos e do Presidente FHC, com a gestão aprovada, perdeu para João Paulo. David Capistrano Filho, também com a gestão aprovada em Santos, amargou a derrota com a candidatura de Telma de Souza a prefeita. Do mesmo modo, o PT gaúcho teve que apear do poder no governo do estado.

Marcus Cunha, candidato a prefeito do Recife com o apoio do prefeito Jarbas Vasconcelos e do Governador Miguel Arraes, foi derrotado por Joaquim Francisco. Roberto Magalhães, candidato à reeleição para a Prefeitura do Recife, com o apoio do Jarbas e do presidente FHC e Jarbas; Cadoca a prefeito, com o apoio de Jarbas; Mendonça a governador, com o apoio de Jarbas. Aliás, Jarbas tem-se caracterizado por ter sido bem votado pessoalmente, mas apresentar péssimos resultados como apoiador. O que já me rendou diversos textos de cordel (LEIA)

Os exemplos citados passaram a figurar, nas análises correntes, como emblemáticos da ineficácia da “teoria do andor”, atribuída a Antônio Lavareda. E nas análises relativas à atual disputa eleitoral para a Prefeitura do Recife, se embrulhou arbitrariamente a candidatura de João Costa nesse pacote, considerando-se o apoio do prefeito João Paulo, do governador Eduardo Campos e do presidente Lula, identificados como sendo “o andor”. Mais uma vez os vetores da realidade transformaram em pó a fiação esquemática.

Ante os analistas esquemáticos do seu tempo, o velho Lênin insistia na necessidade de se fazer “a análise concreta da realidade concreta”, repetindo que “a verdade é sempre concreta”. E ainda citava Goethe: “a teoria, amigo, é cinzenta,/mas verde é a árvore eterna da vida”.