domingo, 21 de setembro de 2008

Análises Eleitorais e Clichês

Pela esquerda e pela direita, o Recife já colheu inúmeros exemplos em que os raciocínios políticos esquemáticos são derrubados pela ditadura da realidade. "Recife, a cidade invicta", vi companheiros se jactarem, considerando as vitórias acumuladas pela esquerda na capital nas disputas eleitorais travadas a partir de 1945, embora com perdas no cômputo dos votos em todo o estado. Até que, nas eleições presidenciais de 1960, Jânio Quadros tirou a virgindade, derrotando o marechal Teixeira Lott, candidato apoiado pelas esquerdas.

“Um candidato derrotado para um mandato parlamentar não pode se lançar a um mandato executivo na eleição seguinte”. Outro dogma que ruiu ante os fatos. Nas eleições de 1958 o deputado estadual Miguel Arraes não conseguiu renovar o seu mandato. Teve menos votos do que o comunista Miguel Batista, que também concorreu a uma vaga. Mas na disputa à Prefeitura do Recife, em 1959, sucessão de Pelópidas Silveira, foi eleito Prefeito, no bojo da articulação eleitoral que havia elegido Cid Sampaio governador do Estado em 1958. Os elementos concretos que envolviam os dois momentos eleitorais eram distintos. Daí a vitória.

Roberto Magalhães, contando com apoio do governador Jarbas Vasconcelos e do Presidente FHC, com a gestão aprovada, perdeu para João Paulo. David Capistrano Filho, também com a gestão aprovada em Santos, amargou a derrota com a candidatura de Telma de Souza a prefeita. Do mesmo modo, o PT gaúcho teve que apear do poder no governo do estado.

Marcus Cunha, candidato a prefeito do Recife com o apoio do prefeito Jarbas Vasconcelos e do Governador Miguel Arraes, foi derrotado por Joaquim Francisco. Roberto Magalhães, candidato à reeleição para a Prefeitura do Recife, com o apoio do Jarbas e do presidente FHC e Jarbas; Cadoca a prefeito, com o apoio de Jarbas; Mendonça a governador, com o apoio de Jarbas. Aliás, Jarbas tem-se caracterizado por ter sido bem votado pessoalmente, mas apresentar péssimos resultados como apoiador. O que já me rendou diversos textos de cordel (LEIA)

Os exemplos citados passaram a figurar, nas análises correntes, como emblemáticos da ineficácia da “teoria do andor”, atribuída a Antônio Lavareda. E nas análises relativas à atual disputa eleitoral para a Prefeitura do Recife, se embrulhou arbitrariamente a candidatura de João Costa nesse pacote, considerando-se o apoio do prefeito João Paulo, do governador Eduardo Campos e do presidente Lula, identificados como sendo “o andor”. Mais uma vez os vetores da realidade transformaram em pó a fiação esquemática.

Ante os analistas esquemáticos do seu tempo, o velho Lênin insistia na necessidade de se fazer “a análise concreta da realidade concreta”, repetindo que “a verdade é sempre concreta”. E ainda citava Goethe: “a teoria, amigo, é cinzenta,/mas verde é a árvore eterna da vida”.

Um comentário:

Claudio Gurgel disse...

Análise perfeita. Parabéns. Principalmente por não esquecer o velho mestre.